Despertar do Inconsciente CAP. 3 Rascunho

O Borgeriano
7 min readJun 6, 2020

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Tudo se passou muito rápido, fui pego desprevenido, não foi inocência mas sim pura imbecilidade. Os desejos e impulsos falaram mais alto que a razão, e tudo se desmoronou, como um castelo de areia ousado, feito a beira do mar. Uma ira adormecida tomou minha alma, a raiva que suprimi por todos anos da minha vida se condensou, tremia mas não era de medo, o desejo era de destruir, apagar qualquer rastro daquelas criaturas desprezíveis. Aquele vazio escondia um ser monstruoso, personificação da sombra alimentada ano após ano, ia alem da maldade, era um caos de trevas.

Abriu as portas do seu inferno, era como se a quela aura sinistra queimasse suas feridas com fogo, era algo muito maior que o sofrimento, destruía o amago. Contudo, a sensação estranhamente fortalecia, imundava de um poder obscuro, que se alastrava por cada célula e tingia a aura com uma atmosfera tenebrosa.

Sorria mesmo que as lagrimas continuassem caindo, como um miserável masoquista sentindo prazer com sua propiá miséria. Igual uma fera ferida que rouba a vida de seu preciosos filhotes, protegendo do caçador, Miguel olha o corpo sem vida de Sol, deseja que tudo aquilo fosse um sonho ruim. As criaturas formavam um circulo em volta dela, sem saber oque fazer Miguel solta um urro fúnebre que se estendeu até acabar seu ar, como um grito de guerra de um Viking ao ver seu irmão abatido pelo inimigo em meio a guerra. Não pelo som mas sim pela transformação que ocorria com nele, fez as criaturas se virarem para ele, o jogo se invertia, os caçadores viraram presas. Como se recitasse uma sentença de um julgamento com tom profano e severo diz:

Miguel: Caos que desde os primórdios fora ventre de toda criação, a qual fecunda e leva toda vida no universo. Como um riu no fundo de um abismo, afoga e definha essas pragas, pois o campo de Girassóis já foram ceifados, arranca sua raiz do ciclo do tempo, leva ao esquecimento para toda eternidade.

Não era uma maldição, e sim uma prece, tão sagrada e verdadeira quanto a de um santo, equilibrada com luz e trevas, causava a pressão de um tornado, como se a propiá força da natureza cumprisse suas palavras, era turbilhão de energia do caos, que condensava e despedaçava aquelas criaturas, que nem tiveram tempo de reagir, em instantes retornaram ao pó a qual foi carregado pelo vento. Sobrando nenhum vestígio alem do corpo nu de Sol, que repousava ainda morno entre as folhas, se parecia com uma oferenda sacrificada aos deuses. Aproximou de seu corpo e envolveu em seus braços, os olhos estavam abertos mas vazios de vida. Seu desprezo por si e deus, o fez nem mesmo barganhar pela vida dela, ou sequer questionar o porque daquilo.

Naquele dia o sol perdeu o calor, e tornou o verão frio.

Enquanto estava se pondo carregou junto o amor, o qual, insistiu, lutou mas partiu .

Desde então a terra não teve mais cor, só jardins com flor, mas sem primavera.

Por mais que queira, a vida não volta a ser como era.

O anjo continua sem asa mesmo com a neve caindo do céu .

A amarga ausência que nem o tempo esqueceu, mistura memória, sonhos, com o que não aconteceu.

Lá fundo não importa o que eu faça, mesmo que só guarde as boas memórias a nostalgia não passa .

Ainda que acredite em um além, e saiba que embora longe de mim está bem .

E mesmo que eu seja falso suficiente, e sem razão consiga ser capaz de mostrar meu dente, na forma de um sorriso.

Só o abrigo do seu abraço, afagaria a saudades que a falta do mesmo me acomete .( Borgeriano, Verão Gelado)

Algo dentro dele apagou, como um Sol que caiu com inicio da noite, os dias seguintes foram silenciosos, enterrou seu corpo entre as arvores da praça, fundo suficiente para não deixar cheiro. Amaldiçoou seu fuzil, parecia pura insanidade lembrar que antes considerava um amuleto de proteção, armas são mensageiras da morte, independente da intenção que as use, sempre serão veículos de violência. E da natureza dela ser assim, fui ingenuo ao pensar que ela protegeria do mal, a mesma bala que mata o suposto inimigo também leva a vida da vitima que os falsos heróis dizem proteger.

Uma brincadeira de mal gosto do destino, o fez cair no próprio buraco que fizera .

Na beira da morte, despiu sua armadura.

Como uma caça recém abatida tendo sua tripa retirada.

Abriu, se pôs vulnerável, expondo feridas que o tempo não curou.

Revelou suas fraquezas, tormentas e conversou com os

demônios que o habitavam.

Enquanto suas entranhas eram amarradas pelas mesmas mãos que durante o frio afagavam .

Em um urro áspero implorou misericórdia em desespero

O resto de esperança o sufocou, e o afogou no vazio.

Assim como um espelho na mira de uma pedra, se estilhaçou e engoliu cada pedaço.

Ainda resistiu negando o fim não por não o desejar.

E sim pois preferia experimentar a agonia do que abrir mão do precioso amor.

Restou apenas um corpo sem alma.

O coração ainda pulsava, mas parecia transportar ácido e o queimava, até que o cauterizou.

Por fim se despedaçou por inteiro, o amor persistiu mas o quebrou . (Borgeriano, Coração de Vidro)

Pouco me recordo dos dias seguintes a morte de Sol, foram meses frios mesmo que o clima tivesse quente. Estava ainda mais insensível, as emoções não oscilavam mais, algo lá dentro parecia estar quebrado, era confortável como um carro fechado pegando sol em um estacionamento, quanto mais tempo passava mais sufocado ficava, mas estava apegado a aquela zona de conforto. Tinha dias ruins que revivia aquele dia, quase como num gesto desesperado de matar saudades que sentia, perdia horas pensando formas diferentes de lidar na quela situação, outras em como teria sido se aquele diz não tivesse existido. A culpa se transformou em desprezo por mim mesmo, sabia que o que aconteceu era resultado das escolhas que fiz ou que demorei para fazer. As vezes se torna tarde de mais para arrumar a bagunça, e não importa quanto se esforce não vai tem como concertar, como um vaso de vidro que guarda uma flor na água, quando cai seus pedaços mesmo que transparentes ferem, sem água a flor tem seu fim acelerado, e sem saber oque fazer com os cacos, apenas engulo na tentativa de guardar por mais tempo, ainda que dilacere por dentro, aquele amor era precioso de mais para varrer.

Por toda historia existem registros da hipocrisia humana, desde a guerra contra o trafico que defende uma moral vazia, e mata crianças, adolescentes, mulheres ,trabalhadores honestos, e marginalizados abandonados pela sociedade. E nas guerras politicas que colocam homens iguais a se fuzilar por um futuro melhor, não se planta uma arvore de Paz com balas de sangue. Por mais nítido que me pareça, uma parte significativa da humanidade ainda acreditou muito tempo nesse delírio, e tratava a diversidade com intolerância e violência. Nem centenas de milhões de vidas foram suficiente para conscientizar, ainda alguns deles se escondem atrás de religiões, justificando suas atrocidades. Cristo se envergonharia ao ver estes falsos crentes, usarem em vão seu nome, pisando em seus ensinamentos mais sagrados, que dizem simplesmente para amar uns aos outros, verdades ignoradas por estes.

Felizmente na segunda e terceira década do seculo XI, o mundo passou a amadurecer nesses aspectos, ainda que a ignorância fosse uma ardilosa erva daninha que recusava deixar o pobre pasto que alimentavam as manadas. Mesmo que tivessem ocorrido durante minha infância, lembro dos protestos que tomaram o mundo no decorrer da queles anos, alem de protestos contra governos extremistas corruptos, os mais notáveis revindicavam seus direitos a vida, repudiando a violência e abusos contra mulher, pessoas de cor, LGBT e exploração sexual infantil.

O falso progresso foi perdendo seus apoiadores, as mudanças climáticas tendo principal a crise hídrica tornavam imbecil o discurso de qualquer um que falasse que aquecimento global, desertificação das florestas e contaminação dos oceanos, era uma teoria da conspiração. A tecnologia foi que tornou mais suportável se adaptar as investidas da natureza, as quais buscavam combater a infecção que a vida humana causou na terra. Racionamento de alimento e água era obrigado por lei, exageros e desperdício eram multados rigorosamente, até os mais ricos tiveram seu modo de vida afetado, ainda que muito pouco se comparado com a parcela mais pobre da sociedade.

A realidade virtual serviu como refugiu a humanidade que beirava instição, alguns ambiente de realidade expandia eram de livre acesso paraos astronautas cibernéticos que tivessem conexão 6G, e equipamento de hibernação fractal, que simulava um sonho lucido, permitindo interação entre milhões de pessoas. Com a mesmo nível de realidade que a experiencia mundana, a tecnologia aproveitava as ondas cerebrais e toda estrutura cerebral, para induzir o sono R.E.M, usando um endógeno sintetizado pela industria farmacêutica. SDA ( Sopro de Anjo) era um dos apelidos da droga que servia como propulsor para realidade virtual, que era conduzida em conjunto a um eletrodo que administrava a imersão. A realidade que o ser humano tem a capacidade de produzir sonhos lúcidos e experimentar a dimensão Onírica, com o despertar a humanidade inteira passou a experimentar o plano onírico sem o uso de SDA, contudo ocorreram alguns efeitos colaterais inesperados, que foi conhecido como despertar do inconsciente.

Anos se passaram até que pela primeira vez tive a resposta que tanto aguardei, em uma expedição pelo Onírico, encontrei um mensageiro Celestial, ao perseguir ele por um tempo acabou parando e me encarou com olhos quem se pergunta o que queria com ele. Diz em tom suave mas serio :

Mensageiro: Porque me segues rapaz? Achou que não perceberia me seguindo, o que quer de mim ?

Miguel: Só estava curioso, não costuma ter gente do seu tipo vagando por aqui. Já que parece tão informado das coisas, diz, tu sabe o que aconteceu com o mundo ?

Mensageiro: Tão sei como vejo assim como tu também vê, se me pergunta a causa disso só posso dizer que foi o humano que fez isso com ele mesmo. Diferente que a maioria pensa não foi obra de nem um deus ou demônio !

Miguel: Acredito que tenha a ver com a tecnologia da empresa que desenvolveu o SDA, mas nunca usei tal coisa, então porque fui afetado ?

Mensageiro: Tu não precisa ter uma arma nuclear para sofre a consequência dela ser usada por alguém, a humanidade é uma entidade coletiva, assim como uma teia, tudo esta emaranhado entre si !

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Written by O Borgeriano

Um astronauta em expedição entre mundos e vazios, buscando colecionar memórias e amadurecer a alma! #PSIC #PNL #Historias #Metaforas #Poesias #Reflexões

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